Revista Discente Expressões Geográficas
ISSN 1980 - 4148 Qualis B5/CAPES
periódico eletrônico dos estudantes, egressos e profissionais da Geografia da UFSC
Publicação sobre a Revista:
Anais do XVI Encontro
Nacional dos Geógrafos. Crise, práxis e autonomia: espaços de resistência e de
esperanças. Espaço de Socialização de Col Coletivos. Porto Alegre, 25 a 31 de julho
de 2010.
REVISTA DISCENTE EXPRESSÕES
GEOGRÁFICAS: AÇÃO COLETIVA PARA A PRODUÇÃO E APROPRIAÇÃO SOCIAL DO CONHECIMENTO
Elisa Rodrigues Dassoler - Geógrafa, Mestranda em Artes Visuais
(UDESC);
André Lima Sousa - Mestrando em Geografia (UFSC);
André Vasconcelos Ferreira - Doutorando em Geografia (UFSC);
Orlando Ednei Ferretti - Doutorando em Geografia (UFSC).
André Lima Sousa - Mestrando em Geografia (UFSC);
André Vasconcelos Ferreira - Doutorando em Geografia (UFSC);
Orlando Ednei Ferretti - Doutorando em Geografia (UFSC).
RESUMO
Este texto objetiva elucidar a trajetória da Revista Discente Expressões Geográficas no sentido de apresentar a forma, as concepções, os objetivos e os desafios desta organização coletiva de estudantes, assim como os temas que foram sendo pautados no percurso de sua construção.
Este texto objetiva elucidar a trajetória da Revista Discente Expressões Geográficas no sentido de apresentar a forma, as concepções, os objetivos e os desafios desta organização coletiva de estudantes, assim como os temas que foram sendo pautados no percurso de sua construção.
PALAVRAS-CHAVE: Revista
Discente; Coletivo; Conhecimento; Ciência; Liberdade de Apropriação do
Conhecimento.
INTRODUÇÃO
Estas
breves linhas que seguem são notas incompletas de uma história em processo,
escrita por quem vivencia a experiência de trabalhar na organização de uma
publicação acadêmica marcada por características particulares, em sua breve,
porém, rica trajetória. Dentre essas características podemos destacar: a
construção coletiva, o compromisso com a democratização e livre difusão do
saber científico, o respeito às diferentes abordagens metodológicas, a defesa
da livre apropriação do conhecimento e a transparência de seus processos.
A
condição de uma revista discente acarreta alguns desafios extras que devem ser
levados em
consideração. Uma das questões mais importantes de um
periódico com esse caráter diz respeito à situação provisória dos estudantes,
seja nos cursos de graduação ou pós, o que reforça a necessidade de renovação
permanente do coletivo da Revista através da entrada de novos integrantes a
cada edição. A adesão de novos membros pode ocorrer a qualquer momento, no
entanto, se tem estimulado para que aconteça, principalmente, no período que
sucede o lançamento de uma edição, em que o coletivo inicia uma nova jornada de
trabalho, dando assim a possibilidade de cada novo integrante vivenciar todas
as etapas do processo de organização de um número completo da Revista.
O
Coletivo Expressões Geográficas, que organiza a Revista, é uma iniciativa autônoma
de estudantes de Graduação e Pós-Graduação em Geografia da UFSC, como de
pesquisadores de Geografia e áreas afins, que, desde 2004, atua como espaço
acadêmico (profissional) e de ação política. Ao reconhecer e assumir a
necessidade da livre difusão do conhecimento, a Revista se coloca no debate
sobre a problemática da restrição ao uso dos meios de comunicação, e atua no
sentido de fornecer uma contribuição à luta pela socialização do conhecimento.
A própria elaboração deste texto é um exemplo disso, já que, realizado no
intuito de socializar uma experiência coletiva partilhada durante a
constituição desta Revista, cujo mérito é o de fornecer um “ciberespaço”
acadêmico gerido coletivamente na perspectiva de desenvolver o conhecimento
científico, incluindo sua produção e difusão, relacionado ao campo disciplinar
da Geografia.
Assim,
buscamos aqui reunir elementos da trajetória da Revista Discente Expressões
Geográficas apresentando a forma de organização do coletivo (através de
comissões), as concepções, os objetivos e desafios da Revista, bem como o
diálogo proposto pela mesma envolvendo Geografia e Comunicação. Procuramos
também tecer considerações finais que se fazem pertinentes dentro do processo
de produção do conhecimento científico livre.
COLETIVO EM PROCESSO
O
processo de organização do Coletivo iniciou-se em 2004, motivado pelas
afinidades acadêmicas e pessoais de um grupo de estudantes do Programa de
Pós-Graduação em Geografia (PPGGEO) / UFSC, ampliando-se, na seqüência, com a
entrada de estudantes de Graduação da mesma instituição, que viam na
organização de uma revista científica um espaço para atuação acadêmica e
política. A proposta inicial permanece ativa no sentido de efetivamente fazer
com que o conhecimento científico supere os muros da Universidade por meio de
sua maior difusão, rompendo assim com o crescente processo de privatização dos
recursos científicos em curso na atualidade.
O
formato eletrônico cumpre um papel central dentro da estratégia de livre
difusão do conteúdo da Revista. O acesso é livre, gratuito e ocorre por meio do
sítio www.geograficas.cfh.ufsc.br, na internet. Basta acessar a página da
Revista e baixar qualquer publicação em formato PDF. Atuamos
no sentido do que se convencionou chamar de copyleft,
que materializa um conceito de apropriação do conhecimento diferente do copyright, das patentes e dos direitos
autorais restritivos. Esse posicionamento encontra-se no texto de Apresentação
da Revista, que diz: “É autorizada a reprodução total ou parcial do conteúdo
desta revista (copyleft), desde que citados os nomes dos autores e a fonte, e a
mesma não atenda a fins comerciais”. Ainda neste sentido, destacamos que a
escolha pela mídia eletrônica (via internet) se deu em função do baixo custo de
produção, divulgação e acesso, e é coerente com a proposta da Revista, já que
viabiliza de maneira mais ampla a participação e interação dos diversos
segmentos da sociedade, e não apenas dos tradicionais circuitos acadêmicos.
A
periodicidade anual se afirma em função das condições materiais de produção da
Revista. Em tempos de enxugamento de prazos, recursos e infra-estrutura
universitária, a semestralidade significaria uma sobrecarga para os integrantes
da comissão editorial, cuja opção de trabalho não contempla remuneração financeira,
sendo todo o trabalho da Revista realizado de forma voluntária. Não esquecendo
de citar o apoio dado em momentos específicos pela UFSC, na figura de sua
Administração Superior (Reitoria e Pró-Reitorias), seu Centro de Filosofia e
Ciências Humanas (CFH) e do PPGGEO.
Atualmente,
a Revista é organizada por comissões de trabalho sob a coordenação geral da
Comissão Editorial, incluindo as Comissões de Artigos, Relatórios de Campo,
Entrevistas, Resumos (de monografias, dissertações e teses), a Secretaria, o
Fórum de Debates e Geoeventos (Blog, criado a partir do 2° Seminário Expressões
Geográficas, será tratado abaixo), além das Comissões de Pareceristas Internos,
Externos e de Apoio Técnico.
Ainda
sobre a organização do Coletivo, destacamos que o funcionamento se dá através
de reuniões mensais com os integrantes da comissão editorial, bem como em
reuniões específicas de cada comissão. A articulação conta ainda com de debates
e reflexões por uma lista de e-mails, que inclui, atualmente, a comissão
editorial e os pareceristas internos.
Em
cada nova edição, define-se coletivamente o expediente do número a ser lançado,
tendo em vista o trabalho desenvolvido por cada participante, em meio às
comissões de organização da Revista, incluindo o trabalho realizado durante o
ano e no processo de fechamento da edição, quando são feitas revisões finais e
formatações, além da produção coletiva do Editorial. Após o lançamento do
número, o grupo se empenha na divulgação da edição recém-publicada e encaminha
a de chamada de novos trabalhos, além de fazer o convite a mais estudantes para
que participem da edição que se inicia.
ORGANIZAÇÃO DE SEMINÁRIOS E
PARTICIPAÇÕES EM EVENTOS
Em
abril de 2005, como forma de reunir artigos para a primeira edição da Revista,
foi organizado o 1º Seminário Expressões Geográficas, que contou com a apresentação
de 18 artigos provenientes de diferentes estados brasileiros. Destes, cinco
foram selecionados e publicados na primeira edição. Ainda sobre o evento, que
teve a participação de estudantes e professores, incluindo a Rede Pública de
Ensino e o Departamento de Geociências da UFSC, recebeu a presença do Prof. Dr.
Ewerton Vieira Machado, que fez uma breve exposição sobre a trajetória do
movimento discente na história do PPGEO-UFSC, ressaltando a importância da
participação dos estudantes nas atividades do Programa. O encerramento do
seminário contou com a Aula Magna intitulada “Monumentos, Política e Espaço”,
proferida pelo Prof. Dr. Roberto Lobato Corrêa, da UFRJ, que, em seguida, foi
entrevistado, também a fim de compor o primeiro número da Revista. A partir da
segunda edição, a chamada de trabalhos foi realizada através de cartazes e
divulgação eletrônica (por e-mails e através do próprio sítio da Revista).
Em
abril de 2010, realizamos o 2º Seminário Expressões Geográficas com o debate em
torno da temática “Geografia e Comunicação”. Esse foi um momento importante de
estreitar as relações da Revista com os interessados no debate sobre a
comunicação. Foram realizados, ao longo de cinco dias: dois Espaços de Debate
(cada um contando com três debatedores) em que foram abordados os temas “Mídia
e Relações de Poder” e “Mídia e Problemática Ambiental”; cinco Mini-cursos
(teórico-práticos) com duração de 8 horas cada (Grafite; Rádio Livre; Produção
de Vinhetas Educativas; Arte e Geografia; e Comunicação Popular); uma Mostra de
Vídeo (curadoria coletiva com convidados de outros estados); e cinco
Conferências com importantes pesquisadores de Geografia e Comunicação, a
exemplo de Axel Borsdorf (Universidade de Innsbruck - Áustria), Francisco
Mendonça (UFPR), Hector Ávila Sanchez (Universidad Nacional Autônoma de
Mexico), Hugo Romero (Universidad de Chile) e Sérgio Amadeu da Silveira
(UFABC).
Ainda
sobre a participação do Coletivo em eventos, destacamos a organização de uma
Mesa Redonda durante a 27ª SEMAGEO (Semana de Geografia da UFSC), no ano de
2006, onde se discutiu a questão dos Movimentos Sociais na América Latina. A
Revista também realizou várias exibições de filmes em diversos eventos
relacionados com a Geografia, além de ter sido convidada seguidamente para
debater em outros espaços, a exemplo da participação na Mesa Redonda sobre
“Comunicação Livre”, realizada durante a Semana de Integração do CFH-UFSC do
ano de 2009, e de debates em
Rádios Livres e Comunitárias (Rádios Tarrafa e Campeche),
dentre outros espaços.
DEBATES SOBRE A GEOGRAFIA E OS
MEIOS DE COMUNICAÇÃO
“Entendemos que a internet revolucionou a forma
dos seres humanos de se comunicar, colocando seus usuários na condição de
agentes e difusores de informações,
abrindo um vasto espaço para a prática da mídia
independente pelo cidadão comum”.
Trecho do Editorial da Edição nº 5 – Revista
Discente Expressões Geográficas (2009)
A
defesa da democratização do conhecimento, incorporada desde o primeiro número
da Revista, aos poucos, evoluiu no sentido de um debate mais geral sobre a
relação entre a produção e apropriação do conhecimento, incluindo as novas
mídias que surgem de forma mais intensa a partir das últimas décadas do século
XX, definindo novas possibilidades de interação em rede. Isso pode ser
percebido através das pautas que constam nos editoriais das últimas edições,
assim como na realização do 2º Seminário sob o tema “Geografia e Comunicação”.
Destacamos,
ademais, o acompanhamento que a Revista realiza em torno do recente Projeto
Substitutivo de Lei que visa controlar o fluxo de informações na internet,
conhecido como o “AI-5 Digital” ou, simplesmente, “Projeto Azeredo”, em
referência ao Senador Eduardo Azeredo, do estado de Minas Gerais, que assumiu a
frente dessa tentativa de criação de instrumentos de monitoramento e controle
da informação na internet. Com pretexto de coibir cibercrimes, o projeto visa
criminalizar práticas hoje tidas como corriqueiras, como baixar músicas e
filmes, atendendo assim aos interesses da indústria fonográfica e
cinematográfica, dentre outras.
Este
é um debate fundamental porque o futuro da internet tem se tornado um campo de
disputas políticas que diz respeito ao futuro dos bens imateriais, ou melhor,
intangíveis, esses que assumem importância progressiva no capitalismo
contemporâneo e que são alvo de interesses particulares. Em relato na seção
Geoeventos, incluída no Blog da Revista, consta a seguinte passagem sobre o
futuro uso da internet:
Será
ele forjado como um recurso de comunicação alternativa e de livre produção de
conhecimento? Ou se transformará em um vasto dispositivo a serviço da
vigilância estatal e corporativa? É nesse cenário que está sendo travada uma
verdadeira batalha, quase silenciosa. O que está em jogo é a criação de
mecanismos de ‘cercamento de informações’ institucionalizando a violação da
privacidade e a criminalização dos usuários por práticas atualmente comuns. Em
outras palavras, querem transformar uma exceção (a quebra da privacidade) no
padrão de controle da rede. (SOUSA, 2009, p. 1-2)
Deste
modo, entendemos que o conhecimento somente se desenvolve pela sua facilidade
de circulação e compreensão, e não no seu cerceamento e transfiguração em
direitos e patentes.
Para
finalizar, divulgamos que a partir do lançamento da sua 6ª Edição, a Revista
passou a organizar um Blog (www.geografiaecomunicacao.ning.com) em que consta,
além da seção Geoeventos, um “Fórum de Debates”, que objetiva abrir espaço para
discussões sobre a temática Geografia e Comunicação. Está, portanto, feito o
convite para a contribuição de outros coletivos, estudantes, profissionais e
professores, com sugestões, debates, etc.; ajudando a organizar este que,
espera-se, seja um instrumento construído em favor da mais livre troca e
divulgação da informação e do conhecimento produzido pela humanidade.
Faz-se
importante destacar que escrevemos este texto na sequência do lançamento da 6ª
Edição da Revista, realizada no dia 28 de junho de 2010 juntamente com a
conferência do Prof. Dr. Hindenburgo Francisco Pires da UERJ, que teve como
tema: “Redes sociais colaborativas: as novas formas de apropriação do
conhecimento social no século XXI”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo
da proposta inicial de participar do “Espaço de Socialização de Coletivos” no
XVI Encontro Nacional de Geógrafos, buscamos trazer neste pequeno texto uma
síntese do processo organizativo da Revista Discente Expressões Geográficas,
além dos principais objetivos e realizações desta organização.
O
debate da organização dos estudantes para a produção e difusão do conhecimento
científico tendo como base política o livre acesso, assim como a participação
destes junto a movimentos sociais, atuando na apropriação do território, nos
parece uma evidência de que os novos tempos colocam novas questões e possibilidades
com que nos defrontamos na realidade que almejamos construir.
REFERÊNCIAS
REVISTA
DISCENTE EXPRESSÕES GEOGRÁFICAS. Editorial.
Número 5 - Ano V. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2009.
Disponível em: http://www.geograficas.cfh.ufsc.br/
SOUSA,
André L. AI-5 Digital: Liberdade e
privacidade na Internet sob ameaça. In: Seção GeoEventos. Florianópolis,
2009. Disponível em: http://www.geografiaecomunicacao.wordpress.com
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